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A necessária transgressão Maio/2009
Se aos técnicos cabe a missão de, antecipadamente, durante os treinos, definirem os planos de ação dos jogadores, então o jeito de as equipes atuarem corresponde, em parte, à maneira daqueles raciocinarem o jogo. Como planos de ação entrariam, por exemplo, os princípios do sistema defensivo, o comportamento ofensivo coletivo diante da defesa adversária, as estratégias para as situações de bola parada etc. Até aí nada de novo, mas não pode passar despercebido o fato de que, exatamente por essa influência singular, o técnico tem de se manter constantemente atualizado, o que passa por assistir e estudar muitos jogos. Essa dedicação beneficiará os jogadores. Enquanto o técnico inquieto melhora os jogadores, o acomodado os atrasa.
Antes que alguém pense, pelo exposto, que os jogadores farão exatamente tudo o que os técnicos preestabelecerem, alerto que isso seria impossível, pois se trata de jogo, que tem na imprevisibilidade sua característica mais peculiar. Por isso escrevi que “em parte” o jogo da equipe corresponde ao pensamento do técnico. Acontecerá sempre algo mais por que os jogadores entrarão em quadra “vestidos” com os planos do técnico, mas também de “si mesmos”, isto é, da sua individualidade, alicerçada nas suas experiências.
“O jogador transgredirá, em alguma medida, o plano antecipadamente traçado pelo técnico, o que não exclui atuar sob sua influência. É uma transgressão necessária”.
Se houve compreensão até aqui, posso facilmente acrescentar que o técnico inventa um modelo de jogo (um jeito de jogar). Este será do tamanho da sua compreensão sobre o jogo. A meu ver, tanto melhor o modelo quanto mais incrementar, por um lado, o que os jogadores têm de melhor, isto é, suas virtudes e por outro lado lhes mascarar os defeitos. No entanto, mesmo sob um bom modelo de jogo, jogar será sempre mais complexo do que as idéias dos técnicos. Sempre as extrapolará.
O jogador, que é quem joga, transgredirá (irá além), em alguma medida, o plano antecipadamente traçado pelo técnico. Isso não exclui atuar sob sua influência. Cada um na sua. O técnico cria o modelo e o jogador a atitude. O técnico antecipa alguns planos para facilitar aos jogadores jogar e estes têm a difícil missão de solucionar problemas que ninguém previu que aconteceriam. O técnico dá os contornos para a atuação tática do jogador. O técnico coloca o jogador na quadra na posição certa e o insere num modelo de jogo ofensivo e defensivo. A partir daí é por conta do jogador.
O jogador inteligente jogará sob estratégias do técnico, mas dará vazão às suas próprias idéias, sem que isso comprometa o seu desempenho e o da equipe. É uma transgressão necessária. O jogador mediano não consegue fazer isso. Ele joga, exclusivamente, para cumprir ordens e se não acaba, por completo, comprometendo seu rendimento, sempre frustra o desejo do espectador de ver, no jogo, algo surpreendente. O técnico comum e o jogador mediano vão à quadra para trabalhar. Deveriam jogar. É o que fazem os grandes técnicos e os craques. Por isso diferenciam-se.
Versatilidade, um Novo Paradigma para Ensinar Futsal
No futsal, o técnico deve se preocupar, quando da montagem da sua equipe, em contar com um elenco de qualidade para ocupar as posições de goleiro, fixo, alas e pivô. Deve, também, ater-se a contratar atletas que possuam características duplas ou múltiplas quanto ao posicionamento e função. Em outras palavras, jogadores que ocupem qualitativamente uma e outra posição e desempenhem as funções exigidas pelas mesmas. Daí poder sinalizar para a ascensão de um novo perfil para os jogadores de futsal. Perfil este que pode estar determinando o surgimento de "novas" posições: fixo/ala, ala/fixo, ala/pivô, goleiro/linha, linha/goleiro. Essa maneira de entender e praticar o futsal deve determinar um novo paradigma para ensiná-lo: a versatilidade.
A atenção na montagem da equipe se justifica na medida em que, técnica e taticamente, a equipe se suplementa, atendendo às diversas demandas do jogo: manutenção da posse de bola, ataque seletivo, marcação equilibrada, variação de manobras, rapidez nos contra-ataques, enfim, eficiência nas ações que permitirão à equipe atacar, defender e contra-atacar.
Diante disso, pergunto: qual seria o perfil dos jogadores, aptos para desempenharem essas novas posições?
a) O fixo/ala, contrapondo a idéia do fixo de função - exímio defensor (marcação, antecipação, desarme) e finalizador de meia-distância - sugere a idéia de um jogador que tenha características de ataque - drible, finalização próxima do gol, criatividade;
b) O ala/fixo caracteriza-se por somar qualidades defensivas às características ofensivas. Uma vez atuando como fixo, durante a partida, terá a mesma eficiência;
c) O ala/pivô é o jogador que transita entre as duas posições. Nesse espaço constrói seu jogo. É tão bom na retenção de bola quanto no drible e finalização. Ora criando ofensivamente pela ala, ora no pivô, como referência, ora compondo o setor defensivo.
d) O goleiro/linha é aquele exímio defensor (defesas, saídas de gol, pegadas) e ainda capaz de fazer o jogo de quadra - recepção, passe e, em alguns casos, finalização. É uma ótima opção ofensiva, pois dá à equipe superioridade numérica e posse de bola;
e) O linha/goleiro é o jogador de linha que reúne qualidades de goleiro. Logo, atuará, em determinados momentos, como um jogador de linha no gol. Em muitos casos, na ausência de um goleiro/linha as equipes são obrigadas a utilizar um linha/goleiro.
Note que, nas posições dos jogadores de linha, não se falou no fundamento passe. Subentende-se que tal habilidade específica é pré-requisito para qualquer posição no futsal. Na ausência do passe de qualidade (precisão), pouco ou nada restará à equipe fazer.
O surgimento dessas novas posições está estreitamente relacionado com o fato do futsal ser um jogo de movimentações constantes com e sem posse de bola. Por conseqüência, os jogadores são exigidos para que atuem em diferentes posições e desempenhem funções múltiplas.
A narrativa acima exposta sinaliza para uma mudança de paradigma para os professores que ensinam crianças a jogar futsal. Contrapondo a equivocada especialização em cada posição, o novo paradigma é pautado na versatilidade. Essa versatilidade, não resta dúvidas, exigirá novas condutas pedagógicas.
A pergunta que se deve fazer é: como desenvolver a versatilidade nas crianças que aprendem futsal?
Faço algumas sugestões:
1. No ensino-aprendizagem do futsal, os professores devem evitar a especialização precoce da criança, em uma ou outra posição. Em contrapartida, deverão estimular a passagem por todas as posições;
2. Ainda na iniciação, deverão ser flexíveis quanto ao posicionamento dos jogadores (sistemas). Observem: alguns sistemas (2.2, por exemplo) limitam a exploração de espaços e criatividade. Nessa direção, é possível até criar novos e inusitados posicionamentos;
3. Desenvolver nas crianças que gostam de jogar no gol o jogo de quadra (recepção, passe e finalização);
4. Estimular que as crianças tenham vivências nas habilidades defensivas do goleiro; 5. Na aprendizagem da técnica todos devem aprender todas as habilidades específicas. Deve ser evitada a associação de algumas habilidades específicas a possível posição que o professor, precocemente, estabeleceu para a criança. Exemplo: os fixos - exímios defensores -, deverão antecipar mais vezes do que os outros jogadores;
6. Ter como objetivo capacitar o seu aluno a desempenhar com qualidade, até o final do período de iniciação, de forma gradativa, no mínimo duas posições. Lembre-se: tempo há de sobra, pois as crianças iniciam por volta dos 5, 6 anos e saem dessa fase com 12, 13, 14 anos.
Sugiro, por fim, um breve exercício: tente associar alguns jogadores que disputam a Liga Nacional, ou que você conhece, com o perfil das novas posições dos jogadores de futsal.